domingo, 11 de novembro de 2007

Ir - me

Não creio em nada, nem na escrita, não creio.
E é essa descrença que me faz falar de coisas que não tenho parte nem domínio nem entendo. Na verdade, não falo sobre nada porque em mim não há voz, há em mim somente um eu que não consigo identificar, logo não consigo pensar, logo não consigo enunciar, não existe o meu enunciado, só minha enunciação.
Repetir sempre é necessário.
E falo porque a voz é aquilo que mais contém o meu silêncio e sempre que eu silencio eu falo tanto que acabam por pedir que realmente fale, então vivo nesse paradoxo: dizer para não dizer e não dizer dizendo, e assim, tenho de ir me confortando em não fazer ninguém ouvir, porque é necessária uma outra escuta que não a de ouvir.
Acho que estou estudando isso demais, estou entendendo isso demais, estou me aprofundando e me silenciando demais, chegarei ao tempo que direi com um olhar mil palavras e minhas profecias de dimensões bíblicas estarão num mover das mãos, aí chegarei lá, e poderei perceber que na vida alguma vez fiz teatro.
Acabo por, sempre, crente que consegui, a formatar níveis daquilo que eu deveria ou poderia, ou conceberia ter dito, se a minha vida fosse essa, pois se fosse, estaria eu limitado a muito pouco. Ainda bem que até agora ainda não fui eu.

6 comentários:

Sentimentalidades-Todas disse...

Também padeço de tantos não-dizeres, não-queres e quereres não ditos. E acredito ainda que o grande falo - materialização do poder - ainda é a fala, sem trocadilhos infames.
Mas há diversos tipo de fala, outras tantas formas de ouvi-las, de deturpa-las principlamente.
E mesmo num momento silencioso de minha existência quero e necessito do ir e vir da comunicação. Falar, sempre!
Palmas para o texto.

Dri Cavalcante disse...

Que texto mais profundo , amei e me encontrei nele tbém rs que coisa não ..... bjs. Dri

Livia disse...

Essa arte de não crer, nao entender, mas insistir em falar, mesmo que seja do desconhecido é fascinante.
É desse não entender que nascem belas escritas como a tua.
O silenciar é interessante, pq há outras formas de se dizer as coisas, o corpo fala, as mãos falam, o olhar então... pede, suplica, deseja...

Texto delicioso de ler...

beijo

c disse...

brigada pela visita ao meu blog.
Gostei bastante do seu.


bjus

Unknown disse...

E vc quer mesmo ser voce?

Mais um talento da familia Werneck que desponta para o mundo literario!

Jah esta fazendo um belo exercicio para saber quem eh realmente vc.

Abracos.

Leonardo Werneck disse...

Eii cara, mandou bem no texto hein.

Quer se voce? isso faz bem!
Aliás o blog é um excelente exercício pra vc se conhecer!

abraços